Se tudo o que se sente e vive fosse susceptível de explicação (através de palavras), eu não seria eu.
Eu sou aquilo que todos conhecem, mas também sou aquilo que não dou a conhecer...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Somos o avesso um do outro. Quando duvidas, páras, e eu sigo em frente. Quando tens medo, eu tenho vontade; quando sonhas, eu pego nos teus sonhos e torno-os realidade, quando te entristeces, fechas-te numa concha e eu choro para o mundo; quando não sabes o que queres, esperas e eu escolho; quando alguém te empurra, tu foges e eu deixo-me ir. Somos o avesso um do outro: iguais por fora, o contrário por dentro. Tu proteges-me, acalmas-me, ouves-me e ajudas-me a parar. Eu puxo por ti, sacudo-te e ajudo-te a avançar. Como duas metades teimosas, vivemos de costas voltadas um para o outro, eu sempre à espera que tu te vires e me abraces, e tu sempre à espera que a vida te traga um sinal, te aponte um caminho e escolha por ti o que não és capaz."
Margarida Rebelo Pinto

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Olhares (e corações) cruzados...



21h11.

Dois carros cruzam-se numa estrada, já coberta pela escuridão. Estava fresca a terra, estava límpido o céu e vislumbravam-se as estrelas.
Dois carros. Dois carros cruzam-se, portanto... E ao verem-se os passageiros desses dois carros, têm a sensação de que algo há para ser dito pelo outro.
Abrandam. Quase param. Mas, na dúvida, e ao ver que o outro, devagarinho, continuava a sua marcha, cada um deles seguiu em frente. Mas ficou a dúvida.
- Era mesmo ele?
- Era mesmo ela?
Dois carros descruzaram-se, numa mesma estrada. Seguiram caminho. E na cabeça dos dois passageiros permaneceu a dúvida, dias e dias...
- Ele queria dizer-me alguma coisa.
- Eu queria saber o que ela tem para me dizer.
Os carros descansam, mas as cabeças dos passageiros viajam para aquela estrada.
Bem sabem que os momentos são irrepetíveis. Provavelmente, nunca se voltarão a cruzar os carros. Mas os seus corações não se descruzaram naquela estrada.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Fugir


Alto, de aspecto pouco cuidado, aparentando carregar uns dez anos a mais que a conta, Patrício constata que o calor se torna ainda mais insuportável ao entrar naquele café.
Senta-se logo na primeira mesa, junto à porta.
É um café estreito e comprido. Normalmente frequentado por homens, mas, neste dia, com a visita agradável das mulheres de saias modestas e decotes discretos.
- Arranje-me uma água bem fresca, senhor... Não se aguenta com o calor, dentro da Sé! - ouve pedir, ao fundo do café.
Dá por si a percorrer com o olhar, degrau a degrau, a escadaria que tem à sua esquerda. No topo, a Sé. Imponente. Majestosa.
- Sagrada. - pensou ele.
Pede uma cerveja.
Mais uma.
O calor parece não ser atenuado pela bebida.
Em poucos minutos, a multidão amontoa-se junto à escadaria, por terem terminado as celebrações. Patrício levanta-se para ver melhor dois jovens que descem as escadas. Envergam batina preta e sapatos bem tratados. Com um sorriso nos lábios, cumprimentam quem se cruza com eles, mantendo uma postura séria mas, ao mesmo tempo, acolhedora.
Fernando acende um cigarro ao seu lado e brinca:
- Faz-lhes uma vénia, homem!
- E faria, acredita. Pelo menos, tiveram a coragem, estes rapazes. - responde, Patrício, numa voz quase muda.
- Coragem?!! Que estás para aí a falar? Já bebeste demais...!!
Num fio de voz, Patrício diz devagar: - Eu não tive a coragem de enfrentar o meu pai. De o confrontar quando me batia, quando me dizia que o seminário não enviava pão para casa, para os meus irmãos comerem...
Sem aguentar a comoção, e para que o colega não o visse naquele estado, Patrício fugiu. E deixou Fernando de boca aberta, por não entender o que ouvira da boca do seu companheiro de faina.
- Boa tarde, Sr. Patrício! - dizem, em coro, os tais jovens, de preto, ao verem-no passar. Ao contrário do habitual, ele não lhes respondeu, preocupado em esconder as lágrimas que corriam pelo seu rosto.


Texto para a Fábrica de Letras (n.º 23 do Desafio de Agosto de 2011).

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Palavras em forma de mimo e desafio (Número 6)

Uma vez que estamos, ainda, na época natalícia, onde os doces se espalham por toda a casa, lembrei-me que a Lady Me do I'm a Lady! comparou o meu blogue com os bombons que recebeu - uma delícia... :)
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Obrigada, linda (apesar de meio roubado e de o meu blogue estar, neste momento, muito paradinho).
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As regras são:
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1. Copiar o selinho;
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2. Referir quem é que nunca vou conseguir esquecer.
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Certamente, nunca conseguirei esquecer os meus pais, os meus irmãos, V. e M., os meus avós (vivos e falecidos), o S. (claro), os meus tios e primos mais chegados ao coração e os amigos fantáticos que tenho feito ao longo da vida e que quero manter (poucos mas insubstituíveis).
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3. Responder à pergunta: Alguém comanda a navegação da tua vida?
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Talvez em certos momentos a resposta pudesse ser outra. Mas, agora, nunca me posso esquecer que só DEUS comanda a navegação da minha vida. Todas as outras pessoas presentes na minha vida poderão influenciá-la, mudar-me, mas nunca comandar o rumo da minha vida.
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4. Passar o selo a blogues deliciosos, que são os seguintes:
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5. Por fim, indicar de onde copiei o selinho.

Tu

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Não sei...
Talvez um outro alguém pudesse preencher assim o meu pensamento, fazer-me sorrir com uma simples lembrança, mostrar-me que um futuro maravilhoso é possível quando estamos de mãos dadas.
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Talvez pudesse...
Mas esse alguém teria de ser como tu. E tu, S., és ÚNICO.

domingo, 26 de setembro de 2010

Hoje

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Hoje, estou feliz.




Muito feliz mesmo... :)


P.S.: Voltei. :)
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Música que associei ao texto:
Feliz (Maria Rita)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

1 Pe 1, 8

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«Sem O terdes visto, Vós O amais;
Sem O ver ainda, Acreditais n'Ele»
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Desejo-te muitas felicidades, amigo Pe. B.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Suposição...

Vamos supor que HOJE terminei a minha licenciatura...
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QUAL A PROBABILIDADE DE EU TER ACABADO DE ENTRAR PARA AQUELE GRUPO CHAMADO "DESEMPREGADOS"??
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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Vamos sonhar (2010)




No calor do passeio, caminham os pés descalços enquanto os dedos entrelaçados fazem adivinhar desejos, planos,... Olhares trocados transmitem acreditar que é possível.
E, para tornar tudo perfeito, rebaixamo-nos, aconchegados na areia, enquanto o sol se vai, para iluminar outros sonhos...


No mar, fica a sombra, esquecida, de um beijo.
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Texto de participação no Desafio de Verão "Vamos sonhar", lançado pela Girl in Motion do Treck Treck..

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Disparou

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Ouviu risos, seguidos de murmúrios... De novo, risos.
Instantaneamente, os seus olhos de cor esmeralda abriram mais. Não só para se habituar à fraca luminosidade daquela parte da casa que era mais velha e escura, mas também para tentar compreender como o riso tivera voltado tão cedo àquele lugar.
Entrara na casa sem se anunciar, sem bater, sem pressionar o botão que acciona a campainha. Entrara, simplesmente. Hábito que, sem saber, mantinha desde a infância, desde que aquela era também a sua casa.
Seguiu o caminho indicado pelos móveis comidos e gastos do corredor. Ao fundo, LUZ.
Ao embrenhar-se na luz que embebia a sala, viu o que nunca esperara ver. Mas, sobretudo, viu o que preferiria não ter visto.
Em silêncio, e sem que a vissem, abriu a mala branca que trazia consigo. Queria encontrar a arma, mas não conseguia.
- Por que raio temos nós de ter malas tão grandes? - pensou, irritada.
O estojo de maquilhagem caiu e elas olharam.
- Fui vista. - constatou.
Mas antes que pudessem gesticular ou verbalizar algo, Daniela DISPAROU.
Sabia que não estava correcto. Que matar não era uma prática que aprovasse. Ou, pelos vistos, que aprovasse em circunstâncias ditas normais.
Mas estava fora de si. E, além disso, gostou.
Gostou, sobretudo, de ver o seu reflexo no olhar frio e sem expressão das duas: da que amava e da que odiava; da que era sua confidente e da que era o motivo das confidências.
Se de uma esperava tudo, da outra esperava nada. E a primeira foi quem a desiludiu, foi quem amarrotou a amizade que as unia. A primeira foi a primeira que ela matou.
Roubou-lhes o olhar e manchou as mãos com o sangue. Agora, velhinha, Daniela já lavou as mãos mais que mil vezes. Ninguém parece reparar na mancha de sangue, ninguém parece vê-la. Mas ela nunca deixou de a ver, nunca a conseguiu atenuar.
E os olhos das duas continuam a espiá-la. E os risos continuam a assombrá-la.
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Texto para a Fábrica de Letras (n.º 2 do Desafio de Julho de 2010).

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Estava vazio...


Miguel acordou. Ergueu a cabeça que repousava nos braços cruzados e caídos sobre a mesa e, num ímpeto, todo o seu corpo tomou a mesma atitude. Vertical, digno, pronto para o combate. Sobre a mesa, apenas um copo que ficara esquecido. Estava vazio...
Não se lembrou imediatamente do que o levara àquilo, mas imagens se tornam nítidas, a cada segundo. A mulher mais nova que o atraira, que o levara para o caminho que desejava afastar, a ilusão que percorrera. Tal como acontecia nos jogos de adolescência, nesta fase também vira piscar o "WRONG WAY" no meio do ecrã da sua vida.
Não foi correcto. Envolveu-se demais. Não demais o suficiente para não conseguir voltar atrás, mas demais.
Deu passos. Numa direcção conhecida mas vaga, cambaleante devido ao líquido que (supunha ele) estivera, horas antes, no copo vazio.
Uma porta entraberta abriu-se com o toque dos seus dedos, fazendo aparecer, do outro lado, a imagem daquela cama onde se deleitou tantos anos com a pessoa amada. A idade fê-los envelhecer um pouco, é certo... Mas, ao vê-la dormir, recordou tudo o que fizeram um pelo outro, tudo o que juraram nos tempos de juventude. Recordou que o olhar doce, cor de mel, que o fez apaixonar-se perdidamente, continua igualzinho. Apenas o salientam, ainda mais, duas ou três rugas de expressão, cavadas na pele pelas brincadeiras dos dias quentes e pelas cumplicidades dos dias mais enregelados.
- Fui um estúpido. - disse ele, baixinho.
Deitou-se na cama, ainda vestido.
E ela, mantendo os olhos fechados, fingindo dormir, deu meia volta na cama e abraçou-o, como se em sonhos o estivesse a fazer.
A discussão do dia anterior tivera ido longe demais. Tudo o que disseram fora longe demais. Mas era necessário.
Ela, agora, sabe que deve perdoar, que deve esquecer. Está cheia de amor para dar.
Mas Miguel estava vazio como o copo que ficara na mesa. Porque fez chorar, pela primeira vez, o seu grande amor.
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Texto para a Fábrica de Letras (n.º 16 do Desafio de Junho de 2010).