Se tudo o que se sente e vive fosse susceptível de explicação (através de palavras), eu não seria eu.
Eu sou aquilo que todos conhecem, mas também sou aquilo que não dou a conhecer...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Olhares (e corações) cruzados...



21h11.

Dois carros cruzam-se numa estrada, já coberta pela escuridão. Estava fresca a terra, estava límpido o céu e vislumbravam-se as estrelas.
Dois carros. Dois carros cruzam-se, portanto... E ao verem-se os passageiros desses dois carros, têm a sensação de que algo há para ser dito pelo outro.
Abrandam. Quase param. Mas, na dúvida, e ao ver que o outro, devagarinho, continuava a sua marcha, cada um deles seguiu em frente. Mas ficou a dúvida.
- Era mesmo ele?
- Era mesmo ela?
Dois carros descruzaram-se, numa mesma estrada. Seguiram caminho. E na cabeça dos dois passageiros permaneceu a dúvida, dias e dias...
- Ele queria dizer-me alguma coisa.
- Eu queria saber o que ela tem para me dizer.
Os carros descansam, mas as cabeças dos passageiros viajam para aquela estrada.
Bem sabem que os momentos são irrepetíveis. Provavelmente, nunca se voltarão a cruzar os carros. Mas os seus corações não se descruzaram naquela estrada.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Fugir


Alto, de aspecto pouco cuidado, aparentando carregar uns dez anos a mais que a conta, Patrício constata que o calor se torna ainda mais insuportável ao entrar naquele café.
Senta-se logo na primeira mesa, junto à porta.
É um café estreito e comprido. Normalmente frequentado por homens, mas, neste dia, com a visita agradável das mulheres de saias modestas e decotes discretos.
- Arranje-me uma água bem fresca, senhor... Não se aguenta com o calor, dentro da Sé! - ouve pedir, ao fundo do café.
Dá por si a percorrer com o olhar, degrau a degrau, a escadaria que tem à sua esquerda. No topo, a Sé. Imponente. Majestosa.
- Sagrada. - pensou ele.
Pede uma cerveja.
Mais uma.
O calor parece não ser atenuado pela bebida.
Em poucos minutos, a multidão amontoa-se junto à escadaria, por terem terminado as celebrações. Patrício levanta-se para ver melhor dois jovens que descem as escadas. Envergam batina preta e sapatos bem tratados. Com um sorriso nos lábios, cumprimentam quem se cruza com eles, mantendo uma postura séria mas, ao mesmo tempo, acolhedora.
Fernando acende um cigarro ao seu lado e brinca:
- Faz-lhes uma vénia, homem!
- E faria, acredita. Pelo menos, tiveram a coragem, estes rapazes. - responde, Patrício, numa voz quase muda.
- Coragem?!! Que estás para aí a falar? Já bebeste demais...!!
Num fio de voz, Patrício diz devagar: - Eu não tive a coragem de enfrentar o meu pai. De o confrontar quando me batia, quando me dizia que o seminário não enviava pão para casa, para os meus irmãos comerem...
Sem aguentar a comoção, e para que o colega não o visse naquele estado, Patrício fugiu. E deixou Fernando de boca aberta, por não entender o que ouvira da boca do seu companheiro de faina.
- Boa tarde, Sr. Patrício! - dizem, em coro, os tais jovens, de preto, ao verem-no passar. Ao contrário do habitual, ele não lhes respondeu, preocupado em esconder as lágrimas que corriam pelo seu rosto.


Texto para a Fábrica de Letras (n.º 23 do Desafio de Agosto de 2011).

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Palavras em forma de mimo e desafio (Número 6)

Uma vez que estamos, ainda, na época natalícia, onde os doces se espalham por toda a casa, lembrei-me que a Lady Me do I'm a Lady! comparou o meu blogue com os bombons que recebeu - uma delícia... :)
.
Obrigada, linda (apesar de meio roubado e de o meu blogue estar, neste momento, muito paradinho).
.
.
.
As regras são:
.
1. Copiar o selinho;
.
2. Referir quem é que nunca vou conseguir esquecer.
.
Certamente, nunca conseguirei esquecer os meus pais, os meus irmãos, V. e M., os meus avós (vivos e falecidos), o S. (claro), os meus tios e primos mais chegados ao coração e os amigos fantáticos que tenho feito ao longo da vida e que quero manter (poucos mas insubstituíveis).
.
3. Responder à pergunta: Alguém comanda a navegação da tua vida?
.
Talvez em certos momentos a resposta pudesse ser outra. Mas, agora, nunca me posso esquecer que só DEUS comanda a navegação da minha vida. Todas as outras pessoas presentes na minha vida poderão influenciá-la, mudar-me, mas nunca comandar o rumo da minha vida.
.
4. Passar o selo a blogues deliciosos, que são os seguintes:
.
.
5. Por fim, indicar de onde copiei o selinho.

Tu

.
Não sei...
Talvez um outro alguém pudesse preencher assim o meu pensamento, fazer-me sorrir com uma simples lembrança, mostrar-me que um futuro maravilhoso é possível quando estamos de mãos dadas.
.
.
Talvez pudesse...
Mas esse alguém teria de ser como tu. E tu, S., és ÚNICO.